1 de maio de 2017

Precisamos falar sobre 13 reasons why

Desde que a Netflix anunciou que adaptaria o livro 13 reasons why, de Jay Asher, para uma série, a plataforma já devia adivinhar que causaria polêmica ao ter como temática principal o suicídio. A série, que chegou ao serviço de streaming em 31 de março (e continua sendo comentada até hoje), retrata a história de Hannah Baker (Katherine Langford), uma adolescente que antes de se matar grava sete fitas cassetes com os 13 motivos que a levaram a se suicidar. Na trama, o público é apresentado às fitas quando Clay Jensen (Dylan Minnette) recebe a caixa que está sendo passada de um “motivo” para o outro para que todos possam ouvi-las.



Assim que os 13 episódios da produção foram disponibilizadas, a série dividiu opiniões. Uma parcela do público gostou do que viu, achou que a série discutia temas necessários (o próprio suicídio, além de bullying e assédio sexual) e até subiu no Twitter a hashtag #NãoSejaUmPorquê em referência a uma mensagem da produção.

No entanto, outro grupo de pessoas se assustou com a abordagem pesada e com ares de vingança e culpabilização da série para um assunto tão delicado, o suicídio. 

Há um clichê relacionado ao suicídio que o caracteriza como a solução definitiva para um problema passageiro. É batido, mas não deixa de ser verdadeiro. No caso de Hannah, ganha ainda a conotação de vingança, já que as fitas descrevem – sob o ponto de vista dela, claro – como cada uma das 13 pessoas seria um dos porquês dela ter se matado. Ou foram maus com ela, ou apenas não se importaram o tanto que ela julgava que deveriam. E eis o primeiro problema: glamourizar o suicídio. Ao mostrar Hannah como uma menina inteligente e bonita, mas ligeiramente impopular, a solução à qual ela chega passa automaticamente a ser algo normal, corriqueiro, que pode sim influenciar jovens por aí. E ela passa a reger os movimentos de todos, mesmo morta.

A adolescência é um período complicado para qualquer um e pelo qual todos passamos, ou estamos passando, ou passaremos. Para Hannah, no entanto, as coisas parecem ser um pouco mais difíceis, ou assim a série nos leva a crer. Mais complicado é aceitar que, passando por todos esses percalços, graves o suficiente para levarem a garota a tirar sua própria vida, ela calcularia todo o esquema de gravação e organização das fitas, com mapa e tudo, para só depois chegar às vias de fato. Com uma voz doce e até um senso de humor esporádico, ela vai narrando tudo, já sabendo qual será a conclusão daquele “projeto”.



No mundo todo, 800 mil pessoas morrem anualmente por suicídio, uma média de uma pessoa a cada 40 segundos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (no documento Prevenção do Suicídio – Um Recurso para Conselheiros), problemas domésticos e financeiros podem ser o estopim, mas quase 90% dos casos envolvem indivíduos com perturbações mentais. A impulsividade, que geralmente leva à tentativa, passou longe, o que torna a premissa da série bem difícil de comprar. Hannah não se encaixa em nenhum desses casos, sendo a exceção da exceção.



O único ponto negativo fica por conta do formato de 13 episódios de uma hora de duração. Os longos capítulos têm um pouco de dificuldade para se sustentar em alguns momentos pontuais, mas nada que prejudique a qualidade do seriado. Ainda assim, vale a pena tirar um tempinho do seu dia para acompanhar a série.


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